Na Super Quarta ocorrida nessa semana, as decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos mostraram trajetórias divergentes, refletindo as condições específicas de cada economia. A coincidência das reuniões transforma o dia em um dos mais relevantes do calendário financeiro, já que as definições das autoridades monetárias dos dois países influenciam expectativas, preços de ativos e a dinâmica dos fluxos internacionais de capitais.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve optou por reduzir novamente a taxa básica em 0,25 ponto percentual, chegando ao intervalo de 3,50% a 3,75% ao ano. Esse foi o terceiro corte consecutivo, sinalizando a continuidade de um processo de flexibilização que ocorre num contexto de desaceleração do mercado de trabalho. A decisão não foi unânime: embora a maior parte do Comitê tenha apoiado o corte de 0,25 p.p., duas divergências se destacaram. Stephen Miran votou por um corte maior, de 0,50 p.p., enquanto Carla Schmid defendeu a manutenção da taxa, evidenciando leituras distintas sobre a força da economia e o ritmo adequado de afrouxamento monetário. Mesmo com a inflação ainda acima da meta, os sinais de perda de tração do emprego têm ganhado peso crescente no balanço de riscos. Em entrevista, Jerome Powell reforçou que o Fed seguirá avaliando os dados com cautela e que a instituição não descarta novos cortes caso o enfraquecimento do mercado de trabalho se torne mais evidente.
No Brasil, o Copom escolheu manter a Selic em 15,00% ao ano, preservando o nível mais elevado em quase duas décadas. O comunicado destacou um ambiente global ainda instável, especialmente devido às incertezas vindas dos Estados Unidos e às tensões geopolíticas. No cenário doméstico, o crescimento segue desacelerando conforme esperado, ao passo que o mercado de trabalho continua demonstrando solidez. Apesar de alguma perda de velocidade recente, a inflação cheia e os núcleos permanecem acima da meta, e as expectativas do Focus seguem desancoradas. O Comitê também chamou atenção para os riscos associados às tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil e para a dependência do quadro fiscal doméstico. Diante desse conjunto de fatores, avaliou que a política monetária precisa permanecer contracionista por um período prolongado para assegurar a convergência da inflação.
O contraste entre as duas decisões reflete a natureza dos desafios enfrentados por cada país. Enquanto o Fed reage principalmente à perda de fôlego do mercado de trabalho, mesmo com a inflação ainda elevada, o Copom se vê diante de expectativas persistentemente acima da meta, incertezas fiscais e pressões inflacionárias que exigem a manutenção de juros em níveis restritivos.