Por Gustavo Leite
No artigo de hoje, vou contar a história das pirâmides. Não as do Egito, mas as pirâmides financeiras. Para as do Oriente Médio você vai, das de esquemas financeiros você foge. Se os monumentos de pedras são edificações magníficas e indestrutíveis, as financeiras são criadas para sucumbirem com (quase) todos seus construtores.
Se você nunca investiu em uma oportunidade de “ganhe dinheiro rápido”, certamente conhece alguém que o fez. Segundo pesquisa do Sebrae, 11% dos brasileiros já fizeram parte de uma pirâmide financeira. Destes, 62% não recuperaram o capital investido. Essa realidade não é apenas nacional. Esse esquema surgiu há bastante tempo e em outro continente.
O esquema de pirâmide financeira surgiu nos Estados Unidos há mais de 100 anos, com Charles Ponzi, um italiano que prometia pagar juros altíssimos aos investimentos (e pagava, de início). Para isso, precisava de novos investidores, para que ele pudesse captar os recursos e, com estes, pagar os investidores mais veteranos. Após anos de operação, houve uma investigação sobre o caso que concluiu que havia muito mais promessas de pagamentos do que receita, o que fez com que a pirâmide desmoronasse. Ponzi morreu no Brasil, sem um pingo de tranquilidade financeira.
Outros casos podem ser destacados, como o de Madoff, em Nova Iorque, que operou cerca de U$ 36 bi em muitos anos. Foi denunciado pelos próprios filhos e condenado a 150 anos de prisão. No Brasil, quantos “empreendimentos de rede” nós vimos surgir e desaparecer? O caso da Telexfree marcou pela grande quantidade de pessoas atingidas. Agora, frequentemente, vejo anúncios de “melhor negócio do mundo” ligados à investimentos em criptoativos. Não posso afirmar que todos são pirâmides, mas desconfio fortemente de um investimento em um ativo extremamente volátil com retornos garantidos.
Fica claro que esse modelo é insustentável, pois precisará sempre de mais e mais novos investidores para a manutenção dessa “pirâmide”, e uma redução na captação fatalmente colapsa todo o sistema.
Bom, mesmo depois de 100 anos, a dinâmica dessa modalidade de crime financeiro se mantém e novas vítimas são atingidas diariamente. Sim, fazer parte desse esquema é considerado crime, de acordo com o art. 2º, inciso IX, da Lei 1.521/51. Logo, além da grande probabilidade de perder dinheiro, participar desse arranjo pode trazer problemas com a justiça. Isso já deveria ser suficiente para redobrarmos a atenção em ofertas irrecusáveis.
Agora vamos pensar juntos sobre o porquê essa prática é uma antagônica à tranquilidade financeira.
No artigo passado, falamos sobre gerenciamento de riscos nos investimentos. Lembre-se de que você precisa reconhecer sua tolerância ao risco e identificar o grau de risco do investimento. Ao investir em uma dessas oportunidades, pergunte a quem estiver te oferecendo quais são os riscos da aplicação. E, pelo amor de Deus, não acredite em zero risco. Nós também já vimos que até Título Público Federal tem risco. Na dúvida, se questione: o que eu tenho de tão especial para essa pessoa me apresentar um investimento com rentabilidade superior ao mercado e sem risco?
Um obstáculo que enfrentamos é a ganância, que tem poder de suprimir nossa capacidade de analisar riscos, pois, ora, “são incríveis 30% ao mês sem risco!” enquanto você vê as ações da bolsa oscilando e os investimentos seguros pagam 10% ao ano! Além desse ótimo argumento, os profissionais que distribuem esses negócios costumam ser altamente persuasivos e têm uma lista extensa e batida de “casos de sucesso”.
Para fugir dessa pedra no caminho da qualidade de vida, questione e pesquise sobre as oportunidades de investimentos oferecidas. Consulte se o portal da CVM Educacional já lançou alguma nota sobre esse caso. Além disso, desconfie de pressões para o recrutamento de mais investidores, se a venda de produtos não for a principal fonte de receitas, além das propostas de retorno muito superiores ao mercado.
Imagina se tem a ver com tranquilidade a possibilidade de fazer parte de um esquema criminoso, potencialmente desastroso, sem falar na chatice dos que têm reuniões intermináveis. Olha quanto dinheiro, tempo e saúde dedicadas a um investimento “sem riscos”.
Se você quer conhecer pirâmides, sugiro adotar como objetivo financeiro visitar os monumentos egípcios carregados de história e voltar com muitas fotos. Isso tem muito mais a ver com tranquilidade do que “lucros rápidos e sem esforço”.