Revisão Estratégica – Investimentos no Exterior

Os fundos de investimentos em bolsa americana que possuem hedge cambial, isto é, acompanham somente a variação do S&P 500 sem sofrer influência da taxa de câmbio, passaram por forte valorização a partir do final do segundo semestre de 2020, e se apresentam como uma das melhores opções para se proteger da imprevisibilidade do cenário nacional. Somente em 2021, o S&P 500 valorizou mais de 20%. Entretanto, após esse cenário favorável e diante da escalada da instabilidade no cenário internacional, elaboramos um estudo do índice, para inferir se ainda há espaço para valorização do S&P 500 no próximo ano.


Na parte política, o presidente americano Joe Biden encontra dificuldade em convencer seus colegas democratas da ala mais centrista do partido a aprovar um gasto fiscal e um aumento de impostos da magnitude proposta. O democrata também encontra dificuldade em votar o pacote de infraestrutura na Câmara, devido aos integrantes da ala mais radical do seu partido, que se recusam a prosseguir com a votação sem que o projeto Build Back Better (Construir de Volta Melhor), plano voltado para projetos sociais e climáticos, seja votado no Senado.

Entretanto, o principal fator de risco é a retirada de estímulos monetários iniciados pelo Federal Reserve (banco central americano) para conter a crise econômica causada pelo Corona vírus. O índice de preços ao consumidor nos EUA ultrapassa 5% no acumulado dos últimos 12 meses e, por isso, a autoridade monetária sinaliza postura mais hawkish para conter a inflação.

Dado o atual cenário, a LEMA elaborou um cenário-base levando em conta as seguintes premissas:

— Aprovação do pacote de infraestrutura de US$ 1,2 trilhão nos Estados Unidos financiado, principalmente, em dívida, e outra parte com elevação de impostos;

— Aprovação do pacote social e climático de US$ 3,5 trilhões enviado por Joe Biden, desidratado para US$ 2 trilhões;

— Início da retirada de estímulos por parte do Fed (tapering) em novembro deste ano e aumento dos juros para 2022;

— Manutenção dos preços das commodities em patamar elevado devido à retomada da demanda global.

O S&P 500 apresentou performance positiva durante o ano, sendo um dos índices mais rentáveis a nível mundial. O desempenho anual é resultado da forte recuperação econômica dos Estados Unidos e dos grandes estímulos econômicos e monetários implementados desde 2020. Nossa avaliação traçou perspectiva sobre o S&P 500 para 2022. O índice é composto por 11 setores como exposto abaixo:

Demos enfoque aos setores com maior peso no índice, quais sejam, Saúde, Financeiro e Tecnologia.

O setor de Saúde mostra-se mais resiliente em período de instabilidade da economia, visto que, é uma área essencial para os consumidores. Nos Estados Unidos, os gastos com healthcare são o equivalente a 17% do PIB, a frente da Suíça (12,2%) e quase o dobro da Austrália (9,3%). Um estudo da Deloitte estima que o consumo com saúde nos EUA chegará a US$ 8,3 trilhões até 2040, frente aos US$ 4 trilhões de 2020.

Contudo, de acordo com a regra do mercado, quanto menor o risco, menor o retorno esperado. Com o setor de saúde não é diferente, dado que, de 2020 até hoje, o índice setorial apresentou rentabilidade abaixo do S&P 500 e do Nasdaq Composite, mesmo com a crise da Covid-19 atuando como driver positivo.

Os “big-banks” conseguiram crescer de forma robusta nos segmentos de Investment Banking e Gestão de Ativos, duas áreas extremamente relevantes para as companhias. Também é notável o balanço mais robusto destas companhias no pós-covid. Um estudo realizado com 10 bancos que compõem o S&P 500, sendo eles: JP Morgan, Bank of America, Wells Fargo, Morgan Stanley, Citigroup, Goldman Sachs, US Bancorp, Charles Schwab, Truist Financial e PNC Financial Services, mostra que o volume de depósitos já ultrapassa os US$ 9 trilhões, enquanto o volume de empréstimos se manteve próximo a US$ 5 trilhões, resultando em uma razão empréstimo/depósitos ainda abaixo do patamar pré-Corona vírus, havendo espaço para o aumento da carteira de crédito do setor bancário. Isso mostra que o setor será um dos mais beneficiados pela retomada da economia e da retirada de estímulos por parte do Fed.

As “big-techs” – grupo composto por Facebook, Microsoft, Amazon, Alphabet (controladora do Google e YouTube) e Apple – passaram por forte crescimento desde que começou a crise da Covid-19, por se beneficiarem do movimento de migração do “consumo presencial” para o “consumo digital”. O lucro dessas empresas bateu recorde histórico no período, puxado pelo aumento do número de usuários ativos e da maior demanda por serviços em nuvem. Porém, ainda é visível a dificuldade em penetrar os mercados asiáticos emergentes, dado que os serviços digitais ainda não possuem a mesma maturidade de EUA, Canadá e Europa. O setor de tecnologia é o mais prejudicado pelo tom mais hawkish do Federal Reserve, visto que, a elevação dos juros implica em migração de capital das empresas de crescimento para companhias mais estáveis.

Acreditamos que os eventos que fomentaram a apreciação da bolsa americana em 2020 e 2021, como o anúncio do pacote de infraestrutura e os estímulos monetários, já foram precificados. Somado isso ao aumento do rendimento dos títulos públicos americanos, que afeta, principalmente, as empresas de tecnologia, e a retomada da promessa de campanha do presidente Joe Biden de aumentar os impostos sobre as empresas americanas, nos leva a crer que o viés para o S&P 500 para 2022 é de estagnação ou de correção.

Diante deste cenário, orientamos a troca de fundos de investimentos hedgeados (fundos com proteção a variação cambial) por fundos BDR (que variam de acordo com o câmbio) como forma de manter parte da carteira exposta ao dólar e, consequentemente, protegida contra eventos adversos dos cenários nacional e internacional. Vale salientar que não estamos emitindo um viés de desvalorização do real, mas sim, buscando otimizar a carteira em busca de uma maior diversificação e relação risco/retorno.

 

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