Radar LEMA – 27.06.23

Divulgada nesta terça-feira (27), a ata do Copom manteve um tom de paciência, serenidade e cautela sobre as próximas decisões da política monetária. Acontecimentos externos e a demora no processo de desinflação do país têm sido pontos fundamentadores da decisão da entidade monetária, mas, enxerga-se oportunidades de redução nos juros se os dados econômicos futuros perdurarem no patamar favorável.

Sobre as perspectivas de cenário, no ambiente econômico externo, o estresse bancário desencadeado pela falência de importantes instituições financeiras dos Estados Unidos e Europa tem feito pressão no mercado de crédito, retardando o acesso a recursos financeiros. Associado a esse fator, bancos centrais ao redor do mundo têm realizado esforços para combater a inflação, que persiste superior às metas estabelecidas.

No cenário interno, a atenção se volta aos dados econômicos que apontam uma desaceleração inflacionária gradual.  Apesar da redução na inflação de alimentos e bens industriais, as expectativas para o indicador apontam para patamares superiores às metas estabelecidas para 2023 e 2024, 5,1% e 4,0%, respectivamente. Quando considerado o cenário de referência do Comitê, projetando-se uma elevação dos preços do petróleo no segundo semestre, juntamente com a vigência da bandeira tarifária “verde” para dezembro de 2023 e 2024, as expectativas para a inflação são de 5,0% para 2023 e 3,4% para 2024, enquanto as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% para 2023 e 4,6% para 2024.

A atividade econômica tem apresentado resultados surpreendentes, principalmente no desempenho do setor agropecuário, em contraposição aos demais setores. Por outro lado, o mercado de trabalho se apresenta resiliente, com o aumento do número de vagas de emprego formal, apesar de uma taxa menor de participação em relação ao período pré-pandemia.

O bom desempenho da economia brasileira associado

ao estabelecimento de um possível aumento das taxas neutras de juros das principais economias mundiais levou a entidade a elevar suas projeções de taxa de juros real neutra de 4,0% para 4,5%. Ponderou-se que o país apresenta situação favorável para a redução do cenário inflacionário, mas ainda é alvo de influência do baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho e de pressões inflacionárias no setor de serviços, fatores que podem dificultar a concretização de cenário esperado.

Esses elementos levaram o Comitê a considerar que o processo de desinflação perpassa por dois estágios. No primeiro, e já concluído, se observou uma desinflação mais acelerada. O segundo, em curso, apresenta um recuo de menor intensidade e faz com que os núcleos respondam ao hiato do produto e às expectativas de inflação futura.

O comportamento benigno dos preços de atacado, principalmente de produtos alimentícios e bens industriais, tem enfatizado o processo de desinflação o que pode ter um impacto indireto nos demais itens da cadeia econômica.

Para o primeiro semestre de 2023, como resultado da influência das bases do ano anterior, espera-se uma continuidade da queda da inflação ao consumidor acumulada nos últimos doze meses. Contudo, no segundo semestre, projeta-se uma maior inflação acumulada, devido à eliminação dos impactos das medidas tributárias que reduziram os preços no terceiro trimestre de 2022 e à manutenção dos efeitos das medidas tributárias deste ano.

Apesar do comportamento benigno dos preços de itens relevantes na cesta do consumidor, as expectativas de inflação ainda permanecem desancoradas das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. A partir de tal constatação será necessário um custo maior para a estabilidade de preços, o que exige serenidade e paciência dos agentes na condução da política monetária. Paralelamente, haverá um aperto maior no cenário de concessão de crédito doméstico como forma de atenuar os atritos no sistema econômico.

No âmbito fiscal, a tramitação das novas regras de controle dos gastos públicos tem oferecido maior confiabilidade perante a um cenário de descontrole da dívida pública. No entanto, ainda existem desafios para o cumprimento dos níveis de resultado primário estabelecidos, o que fez o Comitê enfatizar a inexistência de uma relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, o que depende, em sobremaneira, das expectativas de inflação e das condições financeiras.

Tendo em vista o atual contexto econômico, elencou-se diferentes fatores de riscos que poderão influenciar na direção da trajetória inflacionária. Dentre os riscos de alta destaca-se:

  • Maior persistência das pressões inflacionárias globais;
  • Incertezas residuais sobre o texto final do arcabouço fiscal em aprovação pelo Congresso Nacional, salientando seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco;
  • Uma desancoragem intensificada das expectativas de inflação para o longo prazo.

Para os riscos de baixa, ponderou-se:

  • Queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, apesar de que parte importante desse movimento já tenha sido precificado;
  • Desaceleração da atividade econômica global mais acentuada, devido as condições adversas no sistema financeiro global;
  • Maior desaceleração na concessão doméstica, compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

A partir dessas constatações, o Copom considerou que os mecanismos de condução da política monetária devem seguir um movimento de cautela e parcimônia, tendo em vista que o quadro interno ainda apresenta desancorarem nas expectativas. Entre os seus membros, há divergências sobre os próximos passos na trajetória dos juros. Uma ampla maioria concorda com uma flexibilização do grau de aperto monetário, se houver confiança no processo de desinflação. Por outro lado, parte dos integrantes reitera que a dinâmica desinflacionaria ainda reflete o recuo de componentes mais voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto põe em atenção o impacto do aperto monetário até então implementado. Por unanimidade, houve a concordância de que as próximas decisões dependerão da dinâmica inflacionária, levando em consideração componentes sensíveis da política monetária e da economia.

Diante dessas constatações, o Copom decidiu pela manutenção da taxa básica de 13,75% a.a, sob a perspectiva de convergência da inflação para meta ao longo do horizonte relevante, o que inclui o ano de 2024. O Comitê continuará avaliando os dados econômicos e conduzirá a política monetária no intuito do cumprimento da meta, reiterando que  o estabelecimento de um processo desinflacionário mais lento e uma desancoragem da meta de inflação, exigem maior cautela e parcimônia nas decisões.

 

ELABORAÇÃO

Gabriela Kriscinski

EDIÇÃO

Tamyres Caminha

DISCLAMER

Esse relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconômicas, e não constitui e tampouco deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra ou venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição.
As informações contidas nesse relatório foram obtidas de fontes públicas ou privadas não sigilosas.
A LEMA Economia & Finanças (“LEMA”) não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações.
Esse relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados.
As opiniões, estimativas e projeções expressas nesse relatório refletem a opinião atual do responsável pelo conteúdo desse relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio.
A LEMA não tem obrigação de atualizar, modificar ou alterar esse relatório e, tampouco, de informar ao leitor.
Esse relatório não pode ser reproduzido ou redistribuído para qualquer outra pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento por escrito da LEMA.
A LEMA não se responsabiliza, e tampouco se responsabilizará por quaisquer decisões, de investimento ou de outra forma, que forem tomadas com base nos dados aqui divulgados.
Informações adicionais sobre as informações contidas nesse relatório se encontram disponíveis mediante solicitação por meio dos canais de comunicação estabelecidos pela LEMA.

 

Gostou desse conteúdo exclusivo?
Então não deixe de nos acompanhar também nas redes sociais e ficar por dentro dos assuntos mais relevantes sobre economia, investimentos, Pró-Gestão, ALM e muito mais para o dia a dia do seu RPPS.
LEMA, consultoria de investimentos para todos os RPPS.