Radar LEMA – 26.09.23

Perspectivas econômicas: juros neutros em foco.

A taxa de juros real de equilíbrio, também conhecida como taxa de juros neutra, desempenha um papel fundamental na economia, pois representa o nível de juros que equilibraria a demanda e a oferta agregada, promovendo o pleno emprego e a estabilidade de preços a longo prazo. Em outras palavras, essa taxa não é contracionista, nem expansionista, sendo um parâmetro essencial para a formulação da política monetária.

Quando a taxa de juros real da economia está abaixo da taxa neutra, isso estimula a demanda agregada, impulsionando crescimento econômico, mas gera pressão inflacionária. Por outro lado, uma taxa de juros real acima da neutra reduz a demanda agregada, restringindo o crescimento econômico e a inflação, mas potencialmente causando desemprego e redução de renda.

No entanto, estimar a taxa de juros neutra é um desafio dos mais complexos, uma vez que se trata de uma variável não observável, influenciada por diversos fatores em constante mudança. Para calcular a taxa de juros neutra são utilizados modelos econométricos que consideram variáveis como taxa de desemprego natural, produtividade, crescimento econômico potencial, políticas fiscais, características demográficas e fatores globais, como taxas de juros internacionais. No entanto, a estimativa é difícil devido à incerteza nessas variáveis e requer revisões frequentes, especialmente após eventos como a pandemia da Covid-19, que trouxe desafios adicionais à determinação das novas taxas de equilíbrio econômico.

A turbulência econômica desde meados de 2020, incluindo a quebra das cadeias logísticas e a adoção de programas de transferência de renda em muitos países, resultou em aumento da liquidez e endividamento público, causando pressão inflacionária global e elevando as taxas de juros dos bancos centrais. Isso gerou novas projeções e incertezas sobre a continuidade dessas pressões inflacionárias e sobre o patamar de juros globais.

No que tange aos investimentos, a elevação da taxa de juros neutra pode ter implicações significativas. À medida que as taxas de juros se elevam, os investidores tendem a buscar ativos de renda fixa em detrimento de ativos de renda variável, como ações. Isso pode levar a uma queda na demanda por ativos de risco e, consequentemente, em seus preços. Além disso, empréstimos e financiamentos se tornam mais caros, o que impacta a operação das empresas. Assim, uma taxa de juros neutra elevada é um fator que deve ser observado e levado em consideração na definição das estratégias de investimento.

Em 2023, o debate sobre a taxa de juros neutra ganhou relevância, especialmente com o aumento das estimativas para esse indicador nos Estados Unidos. Esse aumento pode impulsionar taxas de juros de curto prazo e mantê-las elevadas por mais tempo, afetando o comportamento dos mercados, como evidenciado pelo aumento recente nos retornos dos títulos de dívida dos EUA. Países emergentes, como o Brasil, podem sentir esses efeitos de maneira mais intensa, dificultando a flexibilização da política monetária.

Em 2020, durante o auge da pandemia, a taxa de juros real brasileira chegou a ficar negativa. No pós-pandemia, porém, a situação mudou, com a alta da inflação e a desvalorização cambial impulsionando o aumento das taxas de juros, que permanecem em patamar elevado, até o momento. Embora alguns indicadores de longo prazo não tenham sofrido alterações significativas, as projeções da taxa de juros real neutra no Brasil subiram para algo em torno de 4,5%, ante 3,0% em dezembro de 2020, segundo dados obtidos no Relatório de Inflação do Banco Central do Brasil, de junho deste ano. Segundo a metodologia de paridade descoberta de juros, que estima a taxa de juros doméstica relacionando-a com taxas externas, considerando o risco soberano e o prêmio de risco cambial do país, a taxa neutra real do Brasil situa-se entre 4,1% e 5,5%, conforme também traz o Relatório de Inflação do BC. Ainda assim, a taxa Selic adotada hoje, de 12,75% nominal, configura-se, como sabemos, em uma política monetária contracionista, haja vista o processo de desinflação ainda em curso e a desancoragem das expectativas de inflação.

Hoje, a questão central no Brasil não é se o Copom continuará a cortar a taxa Selic nas próximas reuniões, mas até que ponto os cortes continuarão. Em resumo, estimar a taxa de juros neutra tornou-se ainda mais crucial e desafiador diante das recentes mudanças econômicas globais. A volatilidade nos mercados financeiros, a pressão inflacionária e a elevação das taxas de juros são temas centrais nas discussões econômicas. Para o Brasil, a taxa Selic contracionista reflete a busca pelo controle da inflação, mas também ressalta a importância de se adaptar a um ambiente de juros globais mais elevados. O desafio agora reside não apenas em determinar até que ponto a taxa Selic será reduzida, mas também em como o país pode se preparar para uma nova realidade de juros altos globais e sua influência na condução das políticas econômicas. O futuro trará respostas, mas a compreensão da taxa de juros neutra continuará sendo uma ferramenta essencial para moldar o curso da economia nacional e global.

 

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