Panorama Econômico – Mar/23

Por Matheus Crisóstomo

Atividade econômica apresenta dados mais favorável na Zona do Euro, apesar dos riscos inflacionários persistentes, enquanto os dados recentes quanto atividade e geração de empregos, levaram o FED a mudar o tom e projetar possíveis elevações de juros nos EUA. No Brasil, o cenário aparentemente é de desaceleração econômica e desinflação, apesar do resultado do IPCA ter vindo acima das expectativas e uma possível mudança no comando do Bacen surgir como principal risco para o curto prazo.


BRASIL

Apesar da atividade econômica brasileira ter fechado o ano de 2022 com crescimento de 2,9%, ainda no ano passado apresentou sinais de arrefecimento, tendo em vista a desaceleração de 0,2% registrada no quarto trimestre. O cenário de desaceleração permanece neste início de ano, como provam os dados do PMI referentes à passagem de janeiro para fevereiro. O setor industrial apresentou alta, saindo de 47,5 para 49,2 pontos, mas permanece em patamares contracionistas, enquanto o índice de serviços reduziu de 50,7 para 49,8 pontos e o PMI Composto caiu de 49,9 para 49,7 pontos.

A conjuntura política continuou pressionando os prêmios de risco do país, diante das constantes críticas do atual presidente Lula e de representantes do governo, como a então presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hofman, ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto e a atual política monetária imposta pelo Bacen. (Radar LEMA – 07.03.23).

Para Gleisi, “o Banco Central aplica um remédio errado para o combate à inflação ao manter o patamar de juros”, enquanto para Lula, “não existe nenhuma justificativa” para Selic a 13,75% e defende que a sociedade precisa lutar por juros mais baixos. “Se a classe empresarial não se manifestar, se as pessoas acharem que vocês estão felizes, sinceramente, eles não vão baixar os juros”.

Com relação à Inflação, o IPCA de fevereiro veio acima do consenso de 0,80% da Refinitiv, com alta de 0,84% no mês, frente a alta de 0,53% de janeiro. No ano o índice acumula alta de 1,37% e nos últimos 12 meses a elevação foi de 5,60%, abaixo dos 5,77% apresentados no mês anterior. Os grupos que mais que mais contribuíram para alta do índice foram Educação e Saúde e cuidados pessoais, com 0,35 p.p. e 0,16 p.p., respectivamente, por conta do reajuste nos preços dos cursos regulares e dos produtos de higiene.


MUNDO

Os dados sobre a atividade econômica nos Estados Unidos referente ao mês de janeiro e os dados preliminares referente a fevereiro, indicaram uma economia ainda aquecida, com um mercado de trabalho apertado. O PMI composto do país, saiu de 46,8 para 50,1 e atingiu um patamar que indica expansão, enquanto o PMI de serviços avançou de 46,8 para 50,6 pontos e o industrial de 46,9 para 47,3 pontos.

A economia americana que já havia criado 517 mil novos postos de trabalho em janeiro, viu a tendência permanecer durante o mês de fevereiro, quando o país registrou criação de 311 mil novas vagas e levou a taxa de desemprego do país a cair para 3,6%.

Os dados indicam que a atividade econômica americana continua pressionando o nível de preços, podendo levar os membros do FED a rever a desaceleração no nível de aperto monetário, indicado na sua última reunião. O PCE avançou 0,6% na comparação mensal e acumula 5,4% no resultado anualizado. Destaca-se que até mesmo o núcleo da inflação medida pelo PCE apresentou alta de 0,6% em janeiro, acima dos 0,4% projetados pelo mercado.

Já o CPI veio em linha com o estimado pelo mercado, subindo 0,5% em janeiro e atingiu 6,4% no acumulado dos últimos 12 meses. A inflação de alimentos variou 0,5%, enquanto o índice de energia variou 2,0%, no mesmo período. Já o núcleo da inflação, que desconsidera alimentos e energia subiu 5,6% nos últimos 12 meses.

Diferente do tom adotado na reunião do Fomc realizada em janeiro, que reduziu o ritmo de aperto monetário nos EUA, o discurso que o presidente do FED fez em uma audiência ao congresso em fevereiro trouxe pessimismo ao mercado. Jerome Powell disse que provavelmente, a taxa de juros será mais alta do que a antecipada anteriormente e que o ritmo de altas de juros pode acelerar. O discurso da autoridade monetária vem em linha com os dados de atividade ainda robustos, destacados acima.

Na Zona do Euro, após um inverno menos rigoroso, a atividade econômica apresenta forte tendência de alta. O PMI composto do bloco, que já havia apresentado forte alta na passagem de dezembro para janeiro, atingindo o patamar de expansão, continuou a tendência e atingiu 52,3 pontos, maior patamar desde junho de 2022. Já o cenário inflacionário do bloco econômico apresentou sinais mais alentadores, chegando a 8,5% em fevereiro, segundo dados preliminares divulgados pela Eurostat. Apesar de vir acima das expectativas do mercado, o dado apresenta um cenário de queda na inflação, a valores se distanciando do patamar de 10,6% registrados em outubro.

Fevereiro marcou um ano da invasão russa a Ucrânia, no que Vladimir Putin chamou de “invasão para desnazificação e desmilitarização” do país vizinho, dando início a uma guerra que conta com mais de 300 mil mortos e mais de 8 milhões de refugiados. A ajuda com dinheiro e arsenal, dada por países membros da Otan levou Putin a ameaçar invadir outras nações que fazem fronteira com a Rússia e suspender participação do país no tratado de desarmamento nuclear.

Além disto, o mês também foi marcado por um agravamento da relação entre EUA e China, após um balão com capacidade de monitoramento de comunicações ter sido visto sobrevoando o território americano e logo ter sido abatido por autoridades do país. A China inclusive apresenta-se como divisor de águas para que a guerra na Rússia ganhe dimensões mundiais, tendo em vista a sua atual postura de neutralidade. O conflito geopolítico com os Estados Unidos poderia levar a uma atuação mais direta do lado russo.

A abertura da economia chinesa, após flexibilização das medidas de combate a Covid-19 continua trazendo reflexos positivos a economia do país. O PMI Industrial saiu de 49,2 para 51,6 pontos na passagem de janeiro para fevereiro, enquanto os dados de inflação permanecem em patamar controlado, com o CPI registrando alta abaixo das expectativas em janeiro e o PPI registrando deflação, no mesmo período. Vale reiterar que a China é uma das únicas grandes economias do mundo que está em processo de expansão monetária e fiscal, devido a inflação controlada, ao patamar de 2,1% na base anual.


CONCLUSÕES

A curva de juros apresentou movimentos distintos durante o mês, registrando forte abertura para os vértices mais longos e intermediários, diante da pressão imposta ao atual presidente do Banco Central e a política monetária imposta por ele. Mais para o final do mês, a reoneração dos combustíveis trouxe certo alívio para o quadro fiscal do Brasil e levou a um fechamento da curva em todos os vértices, com maior destaque para a ponta curta que passou a precificar Selic em torno de 13,50% para o fechamento do ano. Todavia, o comportamento tem sido de alta volatilidade, diante das incertezas quanto a condução da política monetária durante os próximos anos.

Os índices de baixa duration, principalmente os indexados à inflação curta, se destacaram entre as opções de investimento na renda fixa, principalmente por conta da surpresa inflacionária registrada pelo IPCA. Os prefixados de baixa duration e os pós-fixados também se destacaram no resultado acumulado do mês, ficando em linha com a meta atuarial. O IDkA IPCA 2A e o IMA-B 5 se aproveitaram da expectativa de inflação mais elevada, enquanto o IRF-M 1 e o CDI conseguiram tirar vantagem da Selic em patamares elevados. O fechamento da curva, registada na segunda metade do mês, fez com que todos os índices de renda fixa fechassem o mês no campo positivo.

Ao contrário do registrado em janeiro, a renda variável nacional apresentou elevada volatilidade, diante de uma expectativa de aperto monetário mais intenso por parte do Fed, debates internos envolvendo o quadro fiscal e os juros no Brasil, além do caso americanas gerar uma pequena crise de crédito no país. Assim, o Ibovespa não só entregou todo o resultado registrado no mês anterior como fechou fevereiro com queda de 7,49%, totalizando uma desvalorização anual de 4,37%.

Assim como a bolsa brasileira, a renda variável internacional também apresentou um comportamento completamente distinto do registrado em janeiro e fechou fevereiro em queda. Diante de uma inflação relutante na Zona do Euro e nos EUA, que levou a uma mudança de discurso por parte do Fed e de autoridades monetárias europeias, os índices acionários globais apresentaram elevada volatidade e apesar da redução do risco de recessão global, fecharam o mês em forte queda. O S&P 500 fechou em queda de 2,61%, enquanto o Nasdaq registrou queda de 0,49% no mesmo período.

Diante desse cenário, seguimos com nossa recomendação de exposição em ativos pós-fixados e prefixados de baixa duration, visto que a Selic elevada segue como uma grande oportunidade de bater a meta sem incorrer em grande risco. Outra estratégia interessante é manter o IMA-B 5 na carteira, uma vez que a inflação ainda se encontra em níveis elevados e corre sério risco de voltar a acelerar caso o fiscal não cumpra com o seu papel.

Temos observado atentamente o desfecho da queda de braço entre Lula e Roberto Campos Neto, pois qualquer mudança brusca na política monetária do país pode refletir em aceleração da inflação no curto prazo, o que pode nos levar a expor uma parte maior da carteira a ativos indexados à inflação curta.

Destaca-se que a aplicação direta em títulos públicos, privados e fundos vértice seguem como nossas principais estratégias para reduzir a volatilidade da carteira e garantir retorno acima da meta atuarial. Contudo, deve se levar em consideração a liquidez do portfólio e a necessidade de recursos para pagamento do passivo, tendo em vista que são estratégias com prazo de vencimento e carência.

Na renda variável nacional, admitimos que os múltiplos estão bastante descontados, entretanto, a curva de juros se mostra como extremamente volátil e pressionada pelo risco fiscal, dessa maneira, o valuation das companhias fica parcialmente comprometido. Portanto, somos cautelosos quanto à uma exposição muito elevada em bolsa brasileira e mantemos posição neutra para o segmento.

Para o exterior, ainda somos pessimistas com as economias desenvolvidas, dado que o discurso dos principais bancos centrais ocidentais ainda é de manter a taxa de juros elevada por mais tempo, com possibilidade de intensificar o combate à inflação no curto prazo. Vale ressaltar que o mercado ainda está em processo de revisão das expectativas de lucro das empresas de 2023 e a economia ainda não foi impactada completamente, pelo processo de aperto monetário, dado os efeitos defasados da política monetária.


ELABORAÇÃO
Matheus Crisóstomo

REVISÃO
Gregório Matias

EDIÇÃO
Thais Medeiros


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