Por Lucas Cabral e Jonathas Oliveira
O Federal Reserve elevou o tom contracionista e derrubou a bolsa americana enquanto medidas adotadas pelo governo chinês impactaram positivamente as bolsas de países emergentes. O aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e na Europa levaram o barril do petróleo para o maior patamar desde 2014. No Brasil, a inflação acima do esperado trouxe nova elevação na curva de juros.
BRASIL
Os indicadores de atividade econômica tiveram desempenho acima do esperado pelo mercado. Os índices de volume de serviços e produção industrial avançaram 1,4% e 2,9% em dezembro e fecharam 2021 com alta de 10,9% e 3,9%, respectivamente. O índice de vendas no varejo recuou 0,1% em dezembro na comparação mensal ante expectativa de queda de 0,5% e acumulou alta de 1,4% em 2021.
O IPCA de janeiro elevou-se em 0,54% contra 0,73% em dezembro. Alimentação e Bebidas foi o grupo com maior impacto individual dentro do índice (0,23 p.p.) causado pelo aumento no preço das frutas (3,40%) e das carnes (1,32%). O único grupo que registrou variação negativa foi Transportes (-0,11%) impactado pelo recuo nos preços das passagens aéreas (-18,35%) e dos combustíveis (-1,23%).
Como tentativa de evitar a escalada inflacionária, o Copom elevou novamente a Selic em 1,50 p.p., conforme esperado, e afirmou que o ciclo de aperto monetário deve permanecer em território contracionista. Contudo, o Comitê pegou o mercado de surpresa ao indicar a redução do ritmo de ajuste para as próximas reuniões. As atuais projeções do Copom indicam Selic na casa dos 12% no primeiro semestre de 2022 e 11,75% no fechamento do ano.
MUNDO
Após comentários recentes de que o Federal Reserve (Banco Central Americano) não descarta a possibilidade de sete elevações de juros em 2022 e altas maiores que 0,50 p.p., o mercado americano apresentou forte volatilidade. No momento, o consenso do mercado projeta quatro altas de juros neste ano, porém, o viés mais hawkish do Fed pode refletir em mais altas.
O barril de petróleo passou por intensa variação positiva devido às tensões geopolíticas no Oriente Médio e na Europa. No primeiro, rebeldes do Iêmen lançaram um ataque à uma instalação de fornecimento de petróleo em Abu Dhabi, cidade dos Emirados Árabes Unidos, após o país declarar apoio ao atual governo iemenita. No segundo, a Rússia ameaçou invadir a Ucrânia para impedi-la de se tornar um país-membro da Otan, aliança militar composta por EUA e alguns países da Europa. Vale ressaltar que a Rússia é um dos maiores exportadores de petróleo e gás natural para o continente europeu e um possível conflito tem o potencial de pressionar a oferta da commodity, caso haja sanções comerciais dos Estados Unidos.
O PIB da China cresceu 8,1% em 2021 e evidenciou a desaceleração da economia, dado que, no quarto trimestre, o país cresceu apenas 4% em comparação com o mesmo período do ano anterior, abaixo dos 4,9% registrados no terceiro trimestre. Uma das medidas do governo chinês para conter a desaceleração econômica foi o corte das taxas primes de um e cinco anos, gerando um entendimento por parte do mercado de sinalização de afrouxamento monetário, o que elevou o preço das commodities, beneficiando economias emergentes.
O Banco Central Europeu adotou tom contracionista e sinalizou que não descarta aumento de juros em 2022. A declaração foi realizada pela presidente do BCE, Christine Lagarde, em coletiva de imprensa. O movimento vem após o segundo aumento de juros consecutivo pelo BoE (Bank of England).
CONCLUSÕES
A curva de juros (ver gráfico abaixo) sofreu forte elevação nos vértices de curta e média duração, após novos dados divulgados indicarem inflação acima do esperado. Na parte longa, as pressões para novos gastos governamentais impactaram negativamente a curva, uma vez que as incertezas em relação à sustentabilidade da dívida pública elevaram os prêmios de risco.
Fonte: Valor Pro
Os ativos brasileiros apresentaram desempenho misto no mês de janeiro. O Ibovespa subiu 6,98% e fechou o mês acima de 112 mil pontos, puxado pela recuperação do preço do minério de ferro e avanço do barril de petróleo. O CDI continua com bom desempenho frente às outras opções de renda fixa, principalmente as de vencimentos mais longos, devido à alta das taxas de juros. Os principais destaques negativos ficaram com IRF-M 1+, IMA-B e IMA-B 5+, que são os mais impactados pelo aumento das expectativas de inflação e de elevação dos prêmios de riscos.
O Global BDRx, índice com melhor desempenho em 2021, amargou queda de quase 10% após os índices acionários americanos sofrerem forte correção, com o Fed adotando tom mais hawkish, e a desvalorização de 4,78% do dólar frente ao real, afetado pela política monetária expansionista na China, que impulsionou o preço das commodities e o câmbio de países emergentes exportadores.
Mesmo com a recente valorização do Ibovespa, ainda enxergamos renda variável nacional com cautela, visto que a conjuntura atual é de juros e inflação elevados e atividade econômica estagnada, com viés de baixa. Vale destacar que a postura contracionista e as eleições presidenciais são eventos que devem elevar a volatilidade no mercado. Portanto, sugerimos uma alocação tática em bolsa brasileira , ou seja, aproveitar quando o mercado estiver mais “estressado” para aumentar a posição e posteriormente realizar a venda parcial em momento de otimismo.
No exterior, a elevação da taxa de juros americana e a redução do balanço do Federal Reserve seguem como assuntos principais no radar dos investidores. O cenário americano é de maior incerteza, pois o Fed deixou em aberto quantas altas de juros teremos em 2022 e como se dará a redução do balanço. Sendo assim, recomendamos maior diversificação geográfica, isto é, alocar parte dos investimentos no exterior também ativos europeus e asiáticos em hedge cambial, mantendo assim, a proteção da carteira caso haja desvalorização dos investimentos no Brasil.
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