Análise Técnica – 26.09.23

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por decisão unânime, reduzir a taxa Selic em 0,5 p.p., dando continuidade ao ciclo de redução dos juros que teve início em agosto. A taxa básica de juros da economia brasileira se situa agora em 12,75% a.a., em um contexto de desaceleração econômica e incertezas em âmbito global.

O Comitê avaliou o ambiente externo como mais incerto, uma vez que a atividade econômica e o mercado de trabalho dos Estados Unidos se mantêm robustos, enquanto a China deve registrar menor crescimento. Entre outros aspectos, o Comitê destacou que, no sentido contrário aos ciclos de apertos monetários, impulsos fiscais ainda elevados mantêm a dinâmica da atividade resiliente e dificultam o processo de desinflação em nações desenvolvidas.

Ainda assim, sinais de continuidade do processo de desinflação podem ser vistos, ainda que de forma lenta e gradual, com os núcleos ainda elevados e com os mercados de trabalho robustos. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados a promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, seja dando continuidade às elevações nas taxas de juros, seja mantendo-as no atual patamar por período prolongado.

No Brasil, os indicadores recentes de atividade indicam uma maior resiliência nos principais setores. No segundo trimestre, observou-se um crescimento em setores não cíclicos e no consumo das famílias. Houve também, uma ligeira recuperação da indústria e estabilidade do setor de serviços, enquanto o comércio apresentou sinais de desaceleração. Nesse sentido, o Comitê travou um amplo debate em torno dos motivos para um crescimento mais resiliente nos últimos trimestres e levantou quatro possibilidades:

I – Pujança do setor agropecuário teve efeitos indiretos sobre outros setores da economia;

II – Elevação de renda disponível, seja em função do dinamismo do mercado de trabalho, da queda de preços de alimentos ou de programas de transferência de renda, tenha fornecido algum suporte para o consumo;

III – Taxa de juros neutra mais elevada;

IV – Crescimento potencial teria se elevado nos últimos trimestres, devido a reformas regulatórias e avanços institucionais.

Notou-se que cada uma dessas possibilidades tem implicações diferentes para a condução da política monetária.

O Comitê reforçou a necessidade de medidas que visem a estabilização da dívida pública, destacando que, caso não haja avanço nas reformas estruturais e persistam incertezas quanto à estabilização da dívida pública, poderá ter aumento na taxa de juros neutra da economia, prejudicando a eficácia da política monetária em curso.

Quanto à inflação, o Comitê avaliou que há uma evolução benigna do cenário, considerando o processo de desinflação em dois estágios, com os preços de alimentos, industriais e preços no atacado mostrando um comportamento benigno em um primeiro momento e, em um momento mais recente, os preços de serviços e serviços subjacentes seguindo a tendência de desaceleração.

Ademais, o Comitê prezou pela cautela, uma vez que oscilações em componentes ligados a alimentos, bens industriais e preços administrados podem trazer uma alteração significativa nas projeções. Entre os fatores que podem reverter o cenário, destaca-se o El Niño, taxa de câmbio e preços de commodities internacionais, em especial o petróleo.

No cenário de referência, as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,0% para 2023, 3,5% para 2024 e 3,1% para 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,5% para 2023, 4,5% para 2024 e 3,6% para 2025.

No que se refere à condução da política monetária, a autoridade considera que, embora as expectativas de inflação permaneçam acima da meta e haja preocupação com a possibilidade de desancoragem por um período prolongado, o processo de desinflação está em andamento, com destaque para a inflação de serviços, que tem mostrado desaceleração.

Essa avaliação levou todos os membros a concordarem com cortes adicionais de 0,5 p.p. nas próximas reuniões, mantendo uma política monetária contracionista. O Comitê vê como pouco provável uma intensificação no ritmo de ajustes, o que só ocorreria com mudanças significativas nos fundamentos da inflação. É importante destacar que a extensão do ciclo de redução de juros dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, das projeções, do hiato do produto e do balanço de riscos.

 

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