A Arte da Reserva de Emergência

Por Gustavo Leite.

Há um livro espetacular, datado do século XVII, chamado “A Arte da Prudência”, do espanhol Baltasar Gracián. Nesta obra, o autor nos brinda com conselhos e orientações sobre como viver melhor. Meu palpite é que se à época existisse o conceito de “reserva de emergência”, este certamente estaria em alguma das recomendações do escritor.

Muito mais recente que o escritor barroco, muitos estudos sobre finanças pessoais apresentam a importância da reserva de emergência para a tranquilidade financeira. Mesmo sem os financistas, é possível perceber, intuitivamente, que ter em reserva algo que pode ser utilizado para resolver algum problema ou atender alguma necessidade é pura prudência.

Portanto, neste texto, veremos o que é uma reserva de emergência, por que ela precisa ser levada a sério e como criar este estoque de liquidez.

Reserva de emergência é um acúmulo de determinada quantia de recursos de alta liquidez com a possibilidade de ser resgatada para atender emergências financeiras, como alguma viagem inesperada, perda do emprego, problema de saúde, dentre outros.

Um indivíduo ou família que não possui uma reserva de recursos poderá precisar recorrer a crédito caso haja uma emergência. Pela minha experiência, quanto mais agoniada está uma pessoa por crédito, mais caro ela pagará por ele. A taxa do cheque especial pode chegar a extraordinários 150%a.a. Como o objetivo do nosso conteúdo é ajudar a mudar a condição dos leitores de devedores para investidores, não poderíamos esquecer a reserva de emergência.

Além da recomendação de leitura do livro citado no início, sugiro que seu primeiro objetivo financeiro seja a criação de uma boa reserva. Mesmo com bitcoin subindo como um foguete, Ibovespa batendo recorde ou aquelas “oportunidades únicas” que sua vizinha apresentou, seu intento primeiro deve ser criar um estoque de, no mínimo, três meses de despesas se você tem uma fonte de renda estável; e seis meses de despesas se você não tiver estabilidade no emprego, por exemplo.

Você pode deixar de aproveitar a subida de 20% da bolsa, mas evitará pagar 150% de taxa para ter acesso a crédito. Além disso, e o mais importante, ter uma reserva ajuda a diminuir o transtorno emocional ao lidar com adversidades.

O primeiro passo é reconhecer a importância e POUPAR para acumular, no seu ritmo, a quantidade de dinheiro adequada à realidade. O segundo passo é APLICAR estes recursos em produtos financeiros apropriados.

Nessa etapa, o objetivo não é enricar com o mercado financeiro, mas proteger o capital. Sabemos que inflação diminui o poder de compra do dinheiro com o passar do tempo, portanto é necessário defender as aplicações dessa perda.

A reserva deve ser aplicada em ativos com baixo risco de mercado (sem risco de desvalorização) e alta liquidez (que possam ser resgatados imediatamente), de forma que renda acima da inflação. Estas são as bases para aplicação dos recursos para esse “colchão”.

Na prática, o investimento pode ser realizado em:

  • Títulos Públicos: eu sou um grande defensor do Tesouro Direto. Clicando aqui, você terá acesso ao portal do Tesouro e lá encontrará muitas informações e auxílios para encontrar o melhor título. Para a criação de reserva, o Tesouro SELIC pode ser uma boa opção, visto sua baixíssima oscilação.
  • CDB: provavelmente o(a) gerente do seu banco já te ofereceu um CDB (Certificado de Depósito Bancário) como alternativa de investimento. Sua vantagem é a facilidade de realizar a operação, mas tenha atenção à remuneração deste título e seu prazo. Recomendo compará-lo ao Tesouro SELIC.
  • Fundos de Renda Fixa: existem diversas instituições financeiras que facilitam o acesso a produtos de investimentos e esse pode ser o caso do seu banco. Se tiver fundos de investimentos à disposição, busque alternativas que apresentem resgate disponível em d+0 ou d+1 e acompanhe a inflação ou remunere um pouco mais que a Selic ou CDI, já descontada a taxa de administração.

Relembrando: o primeiro passo é reconhecer a importância de sanear as finanças pessoais, de ter uma boa relação com o dinheiro, criar objetivos para, então, poupar. A partir dessa atitude, comece criando a reserva de emergência. Ela pode ser menos atrativa no começo, pois nesse período você verá diversas “oportunidades únicas” para aplicar seus recursos, mas imagine a tranquilidade de ter recursos disponíveis para uma eventual situação adversa.

Mais um passo em direção à tranquilidade financeira será dado se iniciada a criação de uma reserva de emergência. A prudência de possuir um estoque de algo que possa nos socorrer em momentos de dificuldade nos dará mais segurança para buscarmos atingir sonhos. Afinal, aqui nós falamos de vida, vida em abundância.

 

Gostou desse conteúdo exclusivo?
Então não deixe de nos acompanhar também nas redes sociais e ficar por dentro dos assuntos mais relevantes sobre economia, investimentos, Pró-Gestão, ALM e muito mais para o dia a dia do seu RPPS.
LEMA, consultoria de investimentos para todos os RPPS.