RESUMO
Em outubro, a economia brasileira apresentou inflação em desaceleração, mercado de trabalho aquecido e Selic mantida em 15% a.a.. Nos Estados Unidos, o Fed reduziu juros em meio à moderação da atividade. A zona do euro apresentou avanço no setor de serviços, enquanto a China continua com atividade econômica fraca.
NO BRASIL
A economia brasileira apresentou sinais mistos em outubro. Os indicadores de atividade mostraram leve melhora, embora os principais setores ainda operem abaixo do nível de expansão. O PMI de Serviços avançou de 46,3 para 47,7 pontos, enquanto o PMI Industrial subiu de 46,5 para 48,2 pontos, ambos abaixo da linha de 50 que separa crescimento de retração. O resultado indica uma retração de menor intensidade da atividade, em um contexto de demanda enfraquecida, crédito caro e custos elevados. Apesar disso, observou-se um leve aumento na geração de empregos e um otimismo cauteloso das empresas para os próximos meses.
O mercado de trabalho manteve desempenho robusto e segue sendo um dos principais pilares de sustentação da economia. A taxa de desocupação ficou em 5,6% no trimestre encerrado em setembro, repetindo a mínima histórica da série iniciada em 2012. O contingente de desocupados recuou para 6,0 milhões de pessoas, enquanto a população ocupada atingiu 102,4 milhões. O emprego formal registrou alta de 2,7% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando 39,2 milhões de trabalhadores com carteira assinada. O rendimento médio real habitual atingiu R$ 3.507, maior valor da série histórica, impulsionando a massa salarial, que chegou a R$ 354,6 bilhões, alta de 5,5% em 12 meses.
A confiança do consumidor também mostrou melhora, refletindo a resiliência do mercado de trabalho e o alívio inflacionário recente. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pelo FGV IBRE, avançou 1,0 ponto em outubro, para 88,5 pontos, enquanto a média móvel trimestral subiu para 87,4. O avanço foi sustentado pela percepção mais favorável sobre a situação econômica atual e pelas expectativas para os próximos meses, sobretudo entre as famílias de menor renda.
No campo fiscal, o quadro segue pressionado, com leve deterioração dos indicadores. Em setembro, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 17,5 bilhões, em linha com as expectativas de mercado. O resultado refletiu saldo negativo de R$ 14,9 bilhões no governo central e de R$ 3,5 bilhões nos estados e municípios, parcialmente compensado por superávit de R$ 1,0 bilhão nas estatais. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) subiu para 78,1% do PIB, enquanto a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) atingiu 64,8%, influenciadas, entre outros fatores, pelos juros nominais elevados e pela variação cambial.
Em relação à inflação, o IPCA avançou 0,09% em outubro, desacelerando após 0,48% em setembro, acumulando 4,68% em 12 meses. O resultado foi influenciado pela queda de 2,39% na energia elétrica residencial, em razão da troca da bandeira vermelha patamar 2 pela patamar 1, o que levou o grupo Habitação a recuar 0,30%, impactando o índice geral em -0,05 p.p.. Em contrapartida, Saúde e cuidados pessoais apresentou alta de 0,41%, impulsionado por artigos de higiene e planos de saúde, e impactou em 0,06 p.p., enquanto Despesas pessoais subiu 0,45%, impactando em 0,05 p.p..
Diante desse contexto, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15,00% ao ano, decisão unânime e alinhada às expectativas do mercado. Na ata da reunião, o colegiado reforçou o tom cauteloso da política monetária, destacando as incertezas fiscais, o ambiente internacional ainda adverso e as pressões inflacionárias persistentes. Embora as leituras recentes de inflação indiquem arrefecimento, o Copom avaliou que as expectativas permanecem desancoradas e que a convergência da inflação à meta exigirá a manutenção dos juros em patamar significativamente contracionista por período prolongado. A autoridade monetária reiterou o compromisso com a estabilidade de preços e sinalizou que não hesitará em retomar o ciclo de alta caso o cenário inflacionário volte a se deteriorar.
Mesmo com o cenário global de cautela, o ingresso de investimento direto no país registrou forte avanço. Em setembro, o fluxo somou US$ 10,6 bilhões, acima das estimativas do mercado e o melhor resultado mensal do ano. No acumulado em 12 meses, o montante atingiu US$ 75,8 bilhões, o equivalente a 3,5% do PIB. O desempenho reflete o interesse contínuo de investidores estrangeiros no Brasil, sustentado por fatores como o diferencial de juros elevado e as oportunidades em setores estratégicos da economia.
NO MUNDO
Em outubro, o Federal Reserve reduziu novamente a taxa básica de juros em 0,25 p.p., para o intervalo de 3,75% a 4,00% ao ano, no segundo corte consecutivo de 2025. A decisão refletiu o arrefecimento gradual do mercado de trabalho norte-americano, ainda que a inflação permaneça acima da meta de 2%. Em comunicado, o FOMC destacou que o processo desinflacionário segue incompleto e requer prudência na condução da política monetária. O movimento reforçou o viés de flexibilização gradual da política monetária, contribuindo para o fechamento das taxas dos Treasuries de longo prazo e pode favorecer ativos de risco em um ambiente global de elevada incerteza.
Entre os indicadores de atividade, o PMI Industrial dos Estados Unidos subiu de 52,0 para 52,5 pontos em outubro, sinalizando expansão do setor manufatureiro e o crescimento mais rápido da demanda por bens em 20 meses, segundo a S&P Global. Apesar do resultado positivo, o relatório destacou o impacto das tarifas sobre exportações e o aumento dos custos de produção. Já o PMI de Serviços avançou de 54,2 para 54,8, demonstrando expansão impulsionada pelo maior volume de novos negócios e pela melhora da demanda interna, embora o ritmo de contratações tenha permanecido contido. Com isso, o PMI Composto subiu de 53,9 para 54,6 pontos, indicando que a economia norte-americana iniciou o quarto trimestre em ritmo de crescimento. Apesar das pressões de custos e da moderação nas expectativas empresariais, a resiliência dos setores financeiro e tecnológico continua sustentando o dinamismo da atividade.
Na zona do euro, os indicadores mostraram aceleração no início do quarto trimestre. O PMI Composto do bloco subiu de 51,2 para 52,5 pontos em outubro, alcançando o maior nível em 29 meses. O avanço foi impulsionado pelo setor de serviços, cujo índice passou de 51,3 para 53,0 pontos, refletindo aumento expressivo de novos pedidos e melhora das condições de demanda. Em contrapartida, o setor industrial manteve desempenho enfraquecido, com estabilidade na produção e continuidade na redução de empregos. A retomada do setor de serviços, aliada à moderação dos custos de insumos, reforça o cenário de recuperação gradual da economia europeia, ainda desafiada pelas incertezas externas e pela lenta normalização do comércio global.
Na China, a atividade industrial voltou a recuar em outubro, refletindo a fraqueza da demanda doméstica e o impacto das tarifas comerciais. O PMI Industrial caiu de 49,8 para 49,0, abaixo das projeções de mercado, marcando o sétimo mês consecutivo em território contracionista. O PMI não manufatureiro avançou levemente, de 50,0 para 50,1, indicando expansão marginal no setor de serviços, enquanto o PMI Composto recuou de 50,6 para 50,0 pontos, sinalizando estagnação da atividade econômica.
No campo geopolítico, o mês de outubro foi marcado por avanços diplomáticos e alívio parcial nas tensões comerciais globais. Destacaram-se os acordos firmados
entre os EUA e a China e entre os EUA e o Japão, que preveem redução gradual de tarifas e cooperação em setores estratégicos, como tecnologia e energia. O entendimento com a China incluiu a diminuição de tarifas sobre produtos industriais e agrícolas, enquanto o acordo com o Japão estabeleceu condições preferenciais para bens de alta tecnologia e novos programas de investimento bilateral. Paralelamente, Brasil e Estados Unidos avançaram nas tratativas voltadas à ampliação do comércio e à atração de investimentos, fortalecendo o diálogo entre os dois países. Esses movimentos indicam uma reconfiguração gradual das relações comerciais internacionais, com diversificação de parcerias e possível redução de barreiras em meio a um ambiente de incerteza global.
INVESTIMENTOS

Fonte: Quantum Axis. Elaboração: LEMA
O mês de outubro registrou desempenho positivo nos principais índices de mercado, sustentado pelo aumento do apetite por risco, que reflete fatores como o ciclo de afrouxamento monetário global. Todos os indicadores encerraram o mês em alta, com rentabilidades superiores à meta atuarial.
O Global BDRX (5,90%) e o S&P 500 (2,27%) foram os destaques do mês, acompanhando a valorização das bolsas globais. No que se refere aos BDR, o resultado positivo foi impulsionado também pela valorização do dólar frente ao real no período. No cenário doméstico, o Ibovespa avançou 2,26%, refletindo a expectativa de queda de juros para o início de 2026 e os balanços corporativos positivos, em especial, a Vale (VALE3) surpreendeu o mercado com lucro acima das projeções, somando-se ao bom desempenho de empresas e reaproximações diplomáticas entre Brasil e EUA.
No segmento de renda fixa, os índices prefixados se destacaram, ainda que os atrelados à inflação também tenham superado a meta. Destaca-se que os índices de maior duration apresentaram desempenho marginalmente superior aos mais curtos.
Entre os ativos de perfil conservador, o CDI (1,28%) e o IRF-M 1 (1,29%) seguiram em trajetória consistente, confirmando a atratividade das estratégias em um cenário de juros elevados.
CONCLUSÃO

Fonte: Comdinheiro. Elaboração: LEMA
Em outubro observou-se um recuo da parte curta da curva e uma abertura em vértices mais longos, apesar de não ter ocorrido movimento de grande intensidade. A leitura de que a política monetária seguirá vigilante até que haja sinais mais claros de desinflação e a trajetória prospectiva da Selic indicada para os próximos anos são fatores que têm influenciado as expectativas do mercado e, consequentemente, a dinâmica da curva de juros.
Enquanto o fechamento concentrou-se nos vencimentos mais curtos, a partir de 2026, amparado pelo consenso de início de cortes entre o primeiro e o segundo trimestre, a parte longa seguiu pressionada por fatores como os fundamentos do quadro fiscal e dados recentes da dívida pública, que podem ser intensificados com a aproximação do calendário eleitoral.
Mesmo com o resultado favorável dos ativos em outubro, o ambiente econômico segue incerto, refletindo especialmente a condução das políticas fiscal e monetária. Diante disso, consideramos prudente preservar estratégias de perfil conservador, alocando parcela relevante da carteira em ativos que se beneficiam do elevado patamar de juros, mantendo desempenho aderente à meta atuarial, como fundos referenciados ao CDI e IRF-M 1. Além disso, a aquisição direta de títulos públicos e privados com marcação na curva segue como destaque, proporcionando um alinhamento entre retorno atrativo e previsibilidade para a carteira.

ELABORAÇÃO
Davi Nascimento
Eduarda Benício
REVISÃO
Felipe Mafuz
DIAGRAMAÇÃO
Ramon Alves
DISCLAMER
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