RESUMO
Em julho, a economia brasileira apresentou desaceleração, inflação acima da meta, piora fiscal, mercado de trabalho resiliente e manutenção da taxa Selic em 15% a.a.. No cenário internacional, os EUA apresentaram atividade resiliente e manutenção dos juros, a zona do euro mostrou inflação controlada e recuperação gradual e a China registrou melhora no setor de serviços.
NO BRASIL
A economia brasileira permanece em uma situação de incertezas, com desaceleração da demanda interna, inflação acima da meta, agravamento do cenário fiscal e o anúncio da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. No que se refere às contas públicas, de acordo com dados do Banco Central, a Dívida Bruta do Governo Geral subiu para 76,6% do PIB (R$ 9,4 trilhões) em junho, um aumento de 0,5 p.p. em relação a maio, sendo impactada principalmente pelos juros nominais apropriados. A Dívida Líquida do Setor Público, por sua vez, atingiu 62,9% do PIB, representando o maior patamar da série histórica desde dezembro de 2001.
O mercado de trabalho manteve trajetória robusta, com novos recordes históricos. A taxa de desocupação caiu para 5,8% no trimestre encerrado em junho, ante 6,2% no anterior, menor nível para o período desde 2012. A população ocupada chegou a 102,3 milhões, com 39,0 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado, maior contingente já registrado. A informalidade foi de 37,8%, segunda menor taxa da série. O rendimento médio real habitual subiu 3,3% ante o mesmo trimestre de 2024, para R$ 3.477, enquanto a massa de rendimento avançou 5,9%, a R$ 351,2 bilhões, ambos em níveis recordes.
Em julho, a confiança do consumidor voltou a crescer. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV subiu 0,8 ponto, para 86,7, interrompendo a queda do mês anterior. O avanço refletiu a melhora do Índice de Situação Atual, que cresceu 0,5 ponto, e do Índice de Expectativas, que aumentou 0,7 ponto, indicando maior otimismo das famílias quanto ao presente e ao futuro. O crescimento foi observado em todas as faixas de renda, com destaque para os extremos: consumidores de menor renda (até R$ 2.100) e de renda mais alta (acima de R$ 9.600) registraram os maiores avanços.
Apesar da resiliência do mercado de trabalho e da melhora na confiança do consumidor, os indicadores de atividade continuam a apontar sinais de desaceleração. O PMI Composto da S&P Global recuou de 48,7 em junho para 46,6 pontos em julho, reforçando o quadro de retração. A indústria teve desempenho fraco, com o PMI industrial caindo para 48,2, enquanto serviços recuaram de 49,3 para 46,3, menor nível desde abril de 2021.
No campo inflacionário, o IPCA subiu 0,26% em julho, após variação de 0,24% em junho. A inflação acumulada em 12 meses ficou em 5,23%, continuando acima do teto da meta. O maior impacto veio de Habitação (+0,91% e 0,14 p.p.), com a variação de 3,04% na energia elétrica, principal impacto individual do mês. O grupo Transportes também se destacou com variação de +0,35% e impacto de 0,07 p.p., impulsionado pelo aumento das passagens aéreas (+19,92%). Por outro lado, o grupo Alimentação e Bebidas recuou -0,27%, causando impacto de -0,06 p.p., puxado pela queda da alimentação no domicílio.
Diante desse cenário, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a Selic em 15,00% ao ano. Na ata, o comitê destacou moderação no crescimento da atividade econômica, conforme esperado, embora o mercado de trabalho siga dinâmico. Quanto à inflação, observou que o cenário permanece desafiador, com expectativas desancoradas e projeções elevadas, principalmente após anúncios de tarifas comerciais dos EUA ao Brasil, reforçando a cautela diante de maior incerteza. Também segue monitorando os impactos da política fiscal sobre a política monetária e os ativos financeiros. Caso o cenário projetado se confirme, o Copom prevê manter a interrupção no ciclo de alta para avaliar os efeitos defasados dos aumentos já feitos.
No que se refere ao Investimento Direto no País (IDP), observou-se soma de US$ 2,8 bilhões em junho, ante US$ 6,2 bilhões no mesmo mês de 2024. No primeiro semestre de 2025, o IDP alcançou US$ 33,7 bilhões, com o Banco Central mantendo a projeção de entrada de US$ 70 bilhões ao longo do ano. Segundo avaliação técnica do Bacen, a queda registrada em junho pode ser atribuída, entre outros fatores, à dinâmica das operações intercompanhias, componente relevante do IDP que, no mês, reverteram de um ingresso de US$ 2 bilhões em junho de 2024 para uma amortização líquida de US$ 3,6 bilhões em junho de 2025.
NO MUNDO
Nos Estados Unidos, julho foi marcado por elevada incerteza econômica e política, impulsionada pelo anúncio de novas tarifas comerciais a países como Brasil, Índia, Rússia, Vietnã e África do Sul. Em contrapartida, o governo avançou em acordos bilaterais com parceiros estratégicos, como Japão e União Europeia, que reduziram tarifas para 15%, ante projeções de 25% e 30%, respectivamente. O movimento indica uma estratégia seletiva de flexibilização com aliados, enquanto reforça postura mais protecionista frente a outras economias.
A leitura inicial do PIB dos EUA do segundo trimestre de 2025 superou expectativas, com avanço anualizado de 3,0%, revertendo a contração do trimestre anterior. O resultado foi impulsionado pela queda nas importações e pela manutenção do consumo das famílias, ainda que em ritmo moderado. Em contrapartida, investimentos privados e exportações recuaram. No mercado de trabalho, os dados foram mais fracos: o payroll de julho registrou criação de 73 mil vagas, abaixo do esperado. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%. O conjunto de dados reforça a desaceleração gradual do mercado de trabalho, com o consumo ainda sendo o principal motor da economia.
A inflação medida pelo PCE acelerou 0,3% em junho, em linha com o esperado, permanecendo acima da meta de 2% do Federal Reserve. O núcleo do índice avançou 0,2% no mês e 2,9% em 12 meses. O cenário de alta nas tarifas de importação, que elevou preços de alguns produtos, somado à inflação acima da meta e ao mercado de trabalho com sinais de desaceleração, segue dificultando a condução da política monetária. Neste contexto, o Fed manteve os juros entre 4,25% e 4,50% ao ano na última reunião, conforme o esperado. Contudo, a decisão não foi unânime, com dois membros votando por cortes.
Conforme foi destacado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, a inflação ainda acima da meta justifica uma postura mais cautelosa sobre o momento oportuno para o primeiro corte de juros em 2025. Apesar da expectativa do mercado de que esse movimento ocorra na reunião de setembro, Powell argumentou que os dirigentes avaliarão atentamente os dados a serem divulgados nos meses à frente, reiterando que não há nada decidido sobre a próxima reunião.
No que se refere à União Europeia, destaca-se o acordo comercial feito com os Estados Unidos, que estabelece uma tarifa geral de 15%, acompanhado de um compromisso europeu de investir US$ 600 bilhões na economia norte-americana.
Com a inflação da zona do euro permanecendo em linha com a meta de 2% do Banco Central Europeu, a autoridade monetária optou por manter a taxa de juros em 2% a.a. na reunião de julho, ressaltando em comunicado o “ambiente global desafiador” e “excepcionalmente incerto”, sobretudo em razão das disputas comerciais em curso.
A taxa de desemprego da zona do euro manteve-se na mínima histórica de 6,2% em junho, totalizando 10,8 milhões de pessoas desempregadas. Quanto à atividade econômica, os PMIs indicam recuperação gradual. O PMI de serviços subiu de 50,5 para 51,0 pontos em julho, superando expectativas e mantendo-se em expansão. O PMI industrial, embora ainda abaixo de 50, avançou para 49,8, maior nível desde agosto de 2022, sinalizando uma atenuação no ritmo de contração da atividade fabril.
Na China, o cenário apresenta sinais mistos. Em julho, o país manteve a trégua tarifária com os Estados Unidos, prorrogando o acordo que preserva as tarifas de 30% por parte dos EUA e de 10% pela China, em meio ao avanço das negociações bilaterais.
Em relação à atividade econômica, os PMIs Caixin apresentaram trajetórias divergentes em julho. O setor industrial recuou de 50,4 em junho para 49,5 pontos, retornando ao território de contração. Em contrapartida, o setor de serviços mostrou recuperação, ao passar de 50,6 para 52,6 pontos no mesmo período, o que indica manutenção do ritmo de expansão. Os preços ao consumidor permaneceram em patamar reduzido em julho de 2025, registrando retração de 0,1% no mês, após alta de 0,1% em junho. No acumulado em 12 meses, a inflação ficou estável em 0%, reforçando o cenário de pressões deflacionárias que têm desafiado a recuperação econômica do país. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego manteve-se em 5,0% em junho, permanecendo no menor nível desde novembro de 2024 e sinalizando relativa estabilidade na ocupação.
Neste cenário, em julho o Banco Central da China decidiu manter a taxa de juros em 3,0%, após o corte promovido em maio e conforme amplamente esperado pelo mercado. A manutenção reflete, entre outros fatores, o alívio recente nas tensões geopolíticas, reforçado pelo progresso nas negociações com os Estados Unidos.
INVESTIMENTOS

Fonte: Quantum Axis. Elaboração: LEMA
O mês de julho foi marcado por desempenho aquém do esperado em grande parte dos ativos. Os destaques positivos ficaram concentrados na renda variável, com o Global BDRX e o S&P 500 subindo 6,15% e 2,17%, respectivamente, seguidos por índices de renda fixa conservadores, como o CDI (1,28%) e o IRF-M 1 (1,21%).
Os resultados observados na renda fixa refletem uma abertura em vértices intermediários e longos da curva de juros. Assim, observa-se o contraste entre ativos conservadores que se beneficiam do alto patamar de juros e a sensibilidade de ativos de maior duration a alterações nas expectativas de mercado, principalmente em relação às incertezas macroeconômicas e fiscais.
Os títulos indexados à inflação de vencimentos mais curtos, como IDkA IPCA 2A (0,59%) e IMA-B 5 (0,29%), apresentaram desempenho inferior ao registrado no mês anterior e inferior à meta, mas ainda em patamares positivos. Já o IMA-B 5+, composto por títulos mais longos e consequentemente mais exposto à volatilidade, registrou queda de 1,52% no mês. O IRF-M 1+, índice composto por títulos prefixados de mais longa duration, também apresentou resultado negativo, recuando 0,25% no mês.
Entre os ativos de renda variável, o S&P 500 teve alta de 2,17%, sustentada pela revisão positiva das projeções de crescimento, avanços nas negociações comerciais e bons resultados corporativos, especialmente de empresas do setor de comunicação. O principal destaque foi o Global BDRX, com valorização de 6,15%, impulsionado não apenas pelas ações das empresas que compõem sua carteira, mas também pela valorização do dólar frente ao real no período, registrando apreciação de 3,11% em julho. Em contrapartida, o Ibovespa apresentou queda de 4,17%, refletindo tanto o impacto das tarifas impostas pelos EUA como incertezas relacionadas à condução das políticas fiscal e monetária.
CONCLUSÃO

Fonte: Comdinheiro. Elaboração: LEMA
Em julho, observou-se abertura da curva de juros em praticamente todos os vértices, com destaque para a parte intermediária e longa. A variação observada revela um movimento de reprecificação que reverteu parcialmente o fechamento observado no mês anterior.
Os vértices entre 2028 e 2034 abriram de forma mais expressiva, com as taxas entre 13,40% e 13,80% a.a., o que indica maior prêmio de risco exigido pelos agentes econômicos. A parte curta da curva, por sua vez, manteve-se sem grandes alterações, indicando a continuidade da percepção de que a taxa Selic permanecerá em nível restritivo no curto prazo.
A abertura aponta para uma piora nas expectativas quanto ao equilíbrio macroeconômico de médio e longo prazo, refletindo o acúmulo de pressões no cenário doméstico e o mercado precificando um cenário de juros elevados por mais tempo, possivelmente em resposta à fragilidade fiscal, à dificuldade em ancorar as expectativas de inflação, entre outros fatores relevantes, como incertezas nas relações comerciais e no cenário internacional.
O mês de julho, portanto, foi marcado por um ambiente de volatilidade nos mercados. No cenário externo, persistem as tensões geopolíticas e a incerteza sobre os próximos passos dos principais bancos centrais. No plano doméstico, a ausência de sinais concretos de sustentabilidade fiscal e a inflação ainda acima da meta comprometem a confiança dos investidores e elevam a percepção de risco.
Neste contexto, reforça-se a atratividade de ativos conservadores e uma postura mais cautelosa na condução das carteiras de investimentos dos RPPS. Estratégias como fundos atrelados ao CDI e ao IRF-M 1 continuam mostrando-se aderentes à meta atuarial, com baixa volatilidade mesmo em um cenário de incertezas. Por fim, destacamos que a aquisição direta de títulos públicos e letras financeiras também permanece bastante atrativa, destacando-se como estratégia aderente aos objetivos dos RPPS, por conta do atual patamar das taxas e da prerrogativa de marcação na curva, que favorece a gestão de riscos ao contribuir para a redução da volatilidade da carteira.

ELABORAÇÃO
Davi Nascimento
Eduarda Benício
REVISÃO
Felipe Mafuz
Matheus Crisóstomo
EDIÇÃO
Jefferson Privino
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